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Entrevista ao membro do Conselho Estratégico do SIL: António Ramalho

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Repensar a habitação

À medida que 2024 avança, é inevitável que o mercado imobiliário continue a ser um foco de extrema atenção, até pela conjuntura atual do país. Tendo em conta que existe ainda uma situação governativa difícil de antever, é expectável que possamos assistir a alguma prudência até meio do ano, sendo que se perspetiva uma grande dinâmica nos meses seguintes. Este setor é crucial para a economia e é, ao mesmo tempo, um indicador e um impulsionador do crescimento económico, refletindo as condições gerais do mercado e as tendências sociais.

Um dos fatores-chave que influencia as perspetivas para o mercado imobiliário é o estado das taxas de juros. A trajetória futura permanece incerta, mas há indicadores de uma possível diminuição das mesmas, o que, aliado à estabilização da inflação no nosso país, poderá significar uma maior confiança das instituições bancárias nas avaliações dos imóveis, bem como um aumento de transações.

As mudanças demográficas, como o envelhecimento da população e as preferências de estilo de vida em evolução, moldam a procura de casa em diferentes regiões, descentralizando a oferta. A acessibilidade e a disponibilidade de casas acessíveis também estão a tornar-se questões cada vez mais prementes, com muitas áreas a enfrentarem desafios relacionados com o acesso a mais habitação a preços mais acessíveis.

A tecnologia, por outro lado, também está a desempenhar um papel cada vez mais significativo no mercado imobiliário. Os avanços como inteligência artificial, a realidade virtual, estão a transformar o modelo de conduzir as transações imobiliárias, tornando os processos mais eficientes e acessíveis. Estas inovações moldam a experiência do cliente e influenciam todo o processo de venda de imóveis. No entanto, não podemos ignorar os desafios que o setor enfrenta. Fatores como a disponibilidade de terrenos para desenvolvimento, regulamentações governamentais e custos de construção continuam a impactar a oferta de imóveis e os preços. Além disso, eventos imprevistos, como crises económicas ou conflitos geopolíticos, podem e estão a ter efeitos imediatos e significativos no mercado imobiliário. A influência de fatores internos e externos moldará a trajetória do setor, com investidores estrangeiros a manter o interesse, mas com desafios persistentes relacionados com a crise habitacional e a instabilidade internacional.

É imperativo que os parceiros do mercado imobiliário estejam atentos a esses fatores e se adaptem às mudanças dinâmicas do ambiente. A colaboração entre o setor público e privado, juntamente com investimentos em infraestruturas e políticas habitacionais abrangentes, serão essenciais para garantir um setor resiliente e inclusivo. O sucesso ao longo deste ano dependerá da capacidade do setor adaptar-se às mudanças económicas, políticas e sociais em curso, enquanto continua a oferecer soluções inovadoras e sustentáveis para as necessidades da população.

E se por um lado todos estes aspetos ocupam um “espaço de intervenção enorme”, não podem ser esquecidas as metas de redução de emissões de CO2, principalmente quando é sabido que a nível global as edificações são responsáveis por 40 % das emissões. Serão imperativos novos processos construtivos, com muito maior eficiência energética, com muito maior sustentabilidade ambiental, menos exigentes em mão de obra quantitativa e que permitam soluções habitacionais em prazos muito menores. A tecnologia, o conhecimento, os recursos financeiros têm de se alinhar nesses objetivos indispensáveis ao nosso desenvolvimento.

Acreditamos que 2024 será moldado por uma interação complexa de fatores económicos, sociais e tecnológicos. Embora existam desafios, temos pela frente, um conjunto de oportunidades significativas para inovação e crescimento sustentável neste setor vital da economia.

Entrevista ao membro do Conselho Estratégico do SIL: António Ramalho